"O Restolho deixou de ser um projecto e é hoje um programa com resultados muito expressivos..."
ISABEL JONET É PRESIDENTE DO BANCO ALIMENTAR CONTRA A FOME E DA FEDERAÇÃO EUROPEIA DE BANCOS ALIMENTARES CONTRA A FOME E FALA SOBRE O PROJETO RESTOLHO.
Como se pode sensibilizar a sociedade para o problema do desperdício alimentar?
O desperdício alimentar é hoje uma realidade que atingiu proporções inaceitáveis. Para o combater é necessário sensibilizar todos os consumidores, independentemente da sua idade, opções ideológicas e funções para a injustiça que consiste a destruição de alimentos quando existem pessoas com fome e com carências alimentares. Não se trata de imputar culpas ou responsabilidades: trata-se de saber se que cada um de nós, enquanto consumidor, enquanto agente económico, enquanto ser humano, está desperto para esta realidade e o que podemos fazer para a minorar. Penso que é necessário um amplo programa de comunicação, com inclusão desta temática nos programas escolares, mas sobretudo a partilha de boas práticas, de forma inovadora e através das redes sociais e dos novos canais de relação. Educar para um consumo responsável parte das famílias e das escolas, e alarga-se como opção de vida real a toda a sociedade. Seria também muito importante realizar um estudo realista, transversal a todos os setores, do campo ao prato, incluindo a produção, a transformação, o processamento, a embalagem, a distribuição, a comercialização e o consumo. Conhecer a realidade é o melhor ponto de partida para propor alternativas e legislação reguladora.
O projeto "Restolho" já vai no 3.º ano de implementação. Que balanço faz do programa? Quais os impactos do mesmo?O Restolho deixou já de ser um projeto e é hoje um programa com resultados muito expressivos tanto no que se refere à recuperação de produtos que ficariam desperdiçados no campo, como no voluntariado, seja corporativo, universitário ou individual. A Agromais tem um papel indispensável na mobilização dos seus associados, dando a conhecer e divulgando este programa que retoma a prática tão antiga do restolho ou de "ir ao rabisco" para alimentar pessoas pobres que não teriam possibilidade de ter à sua mesa produtos frescos e podem assim ter uma alimentação mais saudável e equilibrada com produtos que não seriam colhidos por razões comerciais ou outras. O balanço é pois muito positivo, com impactos mensuráveis e uma adesão crescente.
Quais os novos desafios para o "Restolho"? O maior desafio do Restolho é angariar mais campos onde possam ser aproveitados excedentes que ficariam na terra e mais voluntários que os possam apanhar. A parceria com os Bancos Alimentares permite a rápida e correta distribuição a instituições de solidariedade e, através destas, a quem mais precisa. Trata-se de uma cadeia de solidariedade que vai buscar onde sobra para entregar onde falta com vantagens evidentes.
3º Edição da Newsletter Agromais